Tudo começa quando, ao se aproximar do carro com as chaves de presença, as travas das portas abrem-se de forma “mágica”. As luzes piscam, entra-se no veículo, com o pé direito no freio pressiona-se um botão e “bum”. Ou melhor, não existe “bum” nenhum, na verdade não há qualquer som vindo do Toyota Prius – talvez isso seja uma das melhores coisas num carro híbrido. Daí para frente é só colocar o câmbio CVT (continuamente variável) na posição Ready (pronto, em português) e tentar gastar toda gasolina no pequeno tanque de 40 litros.
É assim a vida a bordo do Prius. Diferentemente de outros carros ecológicos como o Ford Fusion Hybrid, Nissan Leaf ou Chevrolet Volt, o modelo da Toyota – na versão testada pelo iG Carros – não oferece um painel cheio de “frufrus”, com folhinhas que surgem e desaparecem de acordo com seu tipo de direção. Ao contrário, ele é direto e reto. Em um lugar mostra o consumo, no outro se você está poluindo demasiadamente ou não, alguns gráficos e só. Nada de telinhas com cores psicodélicas.
Isso pode ser explicado pela concepção de um carro que chegou ao mercado pela primeira vez em 1997. Sim, é isso mesmo. Para você que não sabia, o Toyota Prius não é nenhum representante da nova escola automotiva. Pelo contrário, sua primeira geração levou o título de “primeiro carro híbrido produzido em série”. Nada mal, não é? Naquela época, carros movidos a baterias não eram comuns, quanto mais telas de LCD capazes de tirar a atenção de qualquer um ao volante.
A grande verdade é que o Prius é um Corolla melhorado. Então, você, que apoia os sedãs beberrões e os três-volumes japoneses vai dizer: como ousam? Calma, vamos explicar. Exceto pelo suposto alto preço (por que não dizer abusivo?) que pode ser cobrado pelo Prius no Brasil (estima-se R$ 130.000), tanto ele quanto o Corolla têm a mesma função. Porém, um deles vai fazer você colocar menos a mão no bolso – com relação ao combustível, claro.
Nós não testamos os dois sedãs. Mas, como o Prius cedido não é exatamente o que vem para o Brasil, optamos por mostrar que tanto ele quanto o Corolla poderiam ser concorrentes da mesma casa, não fosse pelo futuro preço elevado do híbrido.
Começando pelas dimensões dos veículos, por mais que não pareça, o Toyota Prius é grande e espaçoso. A principal sacada no design do carro é o teto que “despenca” antes de formar aquela traseira típica dos sedãs, tornando-o mais compacto visto de fora. Isso também se dá ao desenho especialmente projetado para melhorar o consumo do carro.
O Corolla sai na frente no comprimento e na largura: 4,54 m e 1,76 m respectivamente, contra os 4,46 m e 1,74 m do Prius. Porém, o híbrido ganha na altura, com 1,51 m contra 1,48 m do Corolla e no entre-eixos de 2,7 m contra 2,6 m do representante do time dos poluidores. Essa diferença de 10 cm no último item faz toda a diferença dentro do Prius. Na hora de acelerar, a comparação é quase incabível. Enquanto o Corolla pode ser adquirido com um motor 1.8 de 144 cv ou um 2.0 de 153 cv. O Prius testado veio com um 1.8 16V de 98 cv que, em conjunto com o bloco elétrico e o câmbio CVT, despeja mais 80 cv. Quando ambos estão acionados o carro é impulsionado por 136 cv.
O consumo do sedã é de 6,2 km/l na cidade e 10,7 km/l na estrada – levando em consideração a versão XEi, que conta com o motor 2.0 e é a mais vendida da linha. É aí que o Prius ganha de lavada e mostra que os carros híbridos podem carregar o futuro em seus porta-malas. Segundo a Toyota, o consumo urbano do Prius no modo Normal de condução (existem ainda os modos EV, ECO e Power) é de 25,5 km/l (na cidade) e autonomia de 1.150 km. Fazendo uma conta rápida, isso quer dizer que é possível (em condições perfeitas) ir e voltar de São Paulo a Belo Horizonte (1.172 km) com um tanque, por exemplo.
Caso o quesito consumo não convença, o Prius também ganha pelo interior melhor acabado. Além disso, o painel dele lembra quase uma nave espacial, muito mais divertido de dirigir do que seu irmão “serião”. O velocímetro digital, head-up display, as informações sobre o gerador de energia, deixam o híbrido mais interessante do que o Corolla. Porém, o plástico utilizado no acabamento interno merece um ponto negativo pela falta de qualidade.
O Prius tem seus pontos fortes. Arrisco dizer que ele é melhor do que o Corolla em grande parte de seu projeto. Na cidade, a direção elétrica facilita muito nas manobras pesadas e o silêncio no trânsito carregado de São Paulo – ao menos dentro do carro – é impagável. Porém, esse estilo meio sedã, meio hatch, vai agradar apenas aqueles que não fazem questão de um carro com design popular. Ele beira mais o estranho do que o bonito. Diferentemente do Corolla, que é um sedã de fato. Um carro sério, que cumpre seu papel e representa com louvor a classe dos “Brad Pitt” e “Wagner Moura” de plantão. Para quem busca status, o Corolla sai na frente. Vide seu número de vendas. O Prius faz o papel do "carro legal", gostoso e divertido de dirigir e, ainda por cima, ecologicamente correto. Valeria a pena caso seu preço fosse o mesmo do sedã com motor a combustão.
Então, o Toyota Prius poderia ser considerado um avanço para a tecnologia sustentável do país? No mundo ideal, sim. Seria assim: Nosso governo daria incentivos fiscais para as marcas comercializarem seus modelos híbridos e elétricos e elas, por sua vez, não cobrariam nenhum tipo de ágio ou qualquer outra taxa absurda – como estamos acostumados – sobre seus carros. Infelizmente, sabemos que, atualmente, nenhuma das partes procura isso. Então, vamos esperar um Toyota Prius por R$ 130.000 mesmo e continuar poluindo mais um pouco com o líder Corolla.
Fonte: iGCarros
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